Nº 2 – A Apostasia
Apostasia (Ato de renunciar a sua religião).
Apostasia vem do grego antigo απόστασις [apóstasis], "estar longe de"), ou seja: é um afastamento, uma quebra, e no que diz respeito a isso podemos ler em muitos textos escriturais sobre essa ocorrência, vejamos:
“Porque surgirão falsos messias e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.” (Matityahu / Mateus 24:11- 12, 24).
Derech (2013) afirma que entre os anos 66 até 135 DC, mais de 1,5 milhões israelitas foram exterminados, e muitos deles eram nazarenos. Em contrapartida o número de cristãos cresceu, conforme afirma Abraham Cohen:
“Durante algum tempo, a Comunidade cristã era formada de duas seções divergentes: a dos Nazarenos ou Judeus Cristãos e a dos Cristãos Gentios. É claro que um tal estado de coisas não podia durar, e era, somente, uma questão de tempo, antes que uma das seções viesse a predominar e expulsar a outra. Foi exatamente isso que sucedeu. O acontecimento crítico que resolveu a questão foi a destruição do templo e do estado no ano 70... A partir desse momento, os Nazarenos começaram a diminuir em número, enfraquecendo-se, pouco a pouco, a sua influência, até se tornar nula.” (Dois Caminhos, Edições Biblos Ltda, Rio de janeiro, 1964, página 102).
A apostasia já iniciava seu intento, reforçada na fatídica partição entre Cristãos e Nazarenos, e podemos verificar mais alguns textos importantes como:
Matityahu (Mateus) 24:11,12, 24 - Maaseh Shilichim (Atos) 20:29-30 - Tessalonissayah Beit (II Tessalonicenses) 2:1-12 - Yochanan Álef (I João) 2:18-19 - Kefá Beit (II Pedro) 2:1-20
“O que é um falso profeta? Ora, se a Torá (“Lei”) é a verdade (Sl 119:142), consequentemente, qualquer ensino contra a Torá é mentiroso. Falso profeta é aquele que ensina doutrinas contrárias à Torá (“Lei”), isto é, todos aqueles que 'distorcem as palavras do Elohim vivo' (Jr 23:36) - visto que o ETERNO ordenou que ninguém poderia acrescentar ou retirar nada de sua Torá (Dt 13:1, ou 12:32, nas versões cristãs). Então se Yeshua disse que não veio para abolir a Torá (Mt 5:17), logo, quem prega a anulação da Lei é considerado um falso profeta." Derech (2013).
“O Espírito, O Kodesh afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns se desviarão da emunah (Confiança) e darão ouvidos a espíritos enganadores e à doutrina de demônios, sob a influência da hipocrisia de pessoas mentirosas, que têm a consciência cauterizada." (Timoteus Álef/ I Timóteo 4:1-2)
É bom destacar que algumas afirmações desta passagem enumera com gravidade as características desse afastamento usando as expressões: “espíritos enganadores e doutrinas de demônios”, “influência de pessoas hipócritas e mentirosas e de consciências cauterizadas”.
Se a apostasia é um afastamento da vontade plena do criador YHWH, então podemos afirmar que estamos falando da quebra da Torá, das instruções dadas ao povo de Israel inicialmente, e que viria a influenciar todas as nações da terra, como de fato ocorreu. Matar ou roubar é crime em qualquer parte do mundo, bem como dar falso testemunho do próximo. Ainda, os 10 mandamentos foram absorvidos em muitas culturas, de uma certa forma.
No entanto, algumas inverdades se perpetuam desde a apostasia já prevista, e infelizmente alguns líderes atuais pregam contra Israel, contra Torá nos itens mais básicos como: shabat; alimentação; abolição das festas de YHWH que nunca deveriam ser abolidas; entre tantas outras doutrinas. O Messias declarou em sua missão que não tinha vindo para abolir a Torá (Lei) e nem os Profetas, muito pelo contrário, Ele veio para obedecê-las. Pare! Pense um pouco e responda! Como o Inimigo lhe poderia enganar senão com uma "quase verdade"? O inimigo de nossas almas só precisa de 1% pra tornar um verdade em mentira.
O Rabino Shaul profetiza que após sua morte lobos vestidos de cordeiros viriam após ele, e com mentiras, não poupariam o rebanho. Neste ponto queremos focalizar historicamente alguns nomes:
INÁCIO DE ANTIOQUIA, MARCIÃO E TERTULIANO.
Shaul (Paulo) morreu em 66 D.C, e o primeiro ancião (“bispo”) de Antioquia após a sua morte foi Inácio, em 98 D.C. Este bispo (o “Santo” Inácio dos católicos) cumpriu as profecias de Shaul (Paulo), uma vez que escreveu uma série de cartas introduzindo várias heresias no meio dos seguidores do Messias.
“... efetivamente, até aquelas datas a comunidade permanecia virgem, pura e incorrupta, como se até esse momento os que se propunham corromper a sã regra da pregação do Salvador, se é que existiam, ocultavam-se em escuras trevas. Mas quando o coro sagrado dos apóstolos alcançou de diferentes maneiras o final da vida e desapareceu aquela geração dos que foram dignos de escutar com seus próprios ouvidos a divina Sabedoria, então teve início a confabulação do erro ímpio por meio do engano de mestres de falsa doutrina, os quais, não restando nenhum apóstolo, daí em diante já a descoberto, tentaram opor à pregação da verdade a pregação da falsamente chamada gnosis.” (Hegesippus, o Nazareno, citado por Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, Livro III, capítulo XXXII).
A história nos conta que Inácio usurpa a autoridade dos discípulos e muda o sistema de decisão visto em At 14:27 a 15:31, e também em At (1:21-26, 6:5-6, 15:25). Inácio se declara como autoridade decisória e final nas questões da comunidade como veremos:
“... sujeitem-se a seus Bispos... e vocês estarão agindo de acordo com a vontade de Deus.Jesus foi enviado pela vontade do Pai; da mesma maneira, os bispos são enviados pela vontade de Jesus.” (Epístola aos Efésios 1: 9, 11).
“... obedeça a seu Bispo.” (Epístola aos Magnésios 1:7)
“ele... não deve fazer nada sem o Bispo...para não ficar impuro em sua consciência.” (Epístola aos Trálios 2:5)
Conforme vemos na obra Judaismo Nazareno de Fabio Aragão, as afirmações do santo Inácio de Antioquia, deram mais tarde força para a instituição oficial da Igreja Católica, tendo o Papa como chefe supremo da Igreja, denominado Vicarius Filii Dei (“o Substituto do Filho de Deus”). Este pensamento também foi adotado pelo protestantismo, visto que o Pastor é considerado “ungido do Senhor”, pessoa superior aos membros da Igreja, devendo estes obedecer ao Pastor sem questionar suas ordens, ainda que sejam absurdas. Definitivamente Inácio terminou por usurpar a autoridade dos Netsarim (Nazarenos) e obteve o poder perante os Cristãos, estimulando que outros bispos gentios (supervisores) também o fizessem. Assim, a rebelião de Inácio estabeleceu uma divisão entre os Netsarim (Nazarenos) e os Cristãos.
As afirmações de Inácio, O BALUARTE das heresias, são totalmente contra a Torá, leiamos:
“...não mais observem os sábados, mas observem o dia do Senhor [o domingo], no qual também a nossa vida floresce Nele, através da Sua morte...” (Carta de Inácio aos Magnésios 3:3).
“Portanto, não precisamos mais manter o sábado, como fazem os judeus...” (Carta de Inácio aos Magnésios 4:9).
“Vamos, portanto, aprender a viver conforme as regras do Cristianismo, pois quem quer que seja chamado por qualquer outro nome além desse, esse não é de Deus...”.
“É absurdo nomear Jesus Cristo e judaizar. Pois a religião Cristã não abraçou a Judaica. Mas a Judaica abraçou a Cristã...” (Carta de Inácio aos Magnésios 3:8,11)
MARCIÃO DE SÍNOPE (85 A 160 DC)
O influente bispo cristão deu continuidade as dantescas heresias de Inácio, sendo o primeiro a chamar o TANAR (acróstico que significa Torá, Escritos e profetas) de “VELHO TESTAMENTO”, como se fosse caduco, e também rebatizou os escritos dos Nazarenos de “NOVO TESTAMENTO”; expressões inexistentes nas escrituras. Diferentemente os Netsarim (Nazarenos), usavam o TANAR e os Ketuvim Netsarim (Escritos Nazarenos) considerando todas as Escrituras como uma unidade e sem a existência de hierarquia de uma sobre a outra (DERECH, 2013).
Outras metiras de Marcião
a) "o deus mal dos judeus ensinou “olho por olho”, enquanto o deus bom de Jesus ensinou o amor".
A verdade: Vayikrá (Lev) 19:18 e 34.
b) Alegou Marcião que o deus do “Velho Testamento” incentivava o divórcio e o adultério, e o deus do “Novo Testamento” os proibiu.
A verdade: Bereshit 2:24 e Devarim 17:17.
c) Sustentou que o deus do “Velho Testamento” não era onisciente, porque perguntou para Adam (Adão): “onde você está?”
A verdade: YHWH não é acusador e dá chances ao homem.
d) Esse deus é um deus de vingança, crueldade e ódio; e o deus de Jesus é bondoso e amoroso.
A verdade: O hebraico “chesed” (graça) aparece 240 vezes no TANAR (Antigo Testamento). E o que podemos dizer de Atos 5:1-11?
e) Na visão do Marcionismo, Yeshua foi enviado pelo Deus Pai (o deus bom) para superar o deus mal.
A verdade: Este conceito é tão absurdo que dispensa maiores comentários.
f) Explicava Marcião que o deus do “Antigo Testamento” criou o mundo material para alastrar o mal, tornando-se a divindade dos judeus. Este deus perverso outorgou a Lei (Torá) com o objetivo de promover uma justiça legalista que punisse severamente os homens por seus pecados com sofrimento e morte. O deus de Jesus derrubou a Lei, olhando a humanidade com compaixão e piedade. Outra grande heresia de Marcião!
A verdade: Yeshua afirmou que não veio revogar a Torá/Lei (Mt 5:17) e Shaul considerou a Torá santa, justa e boa (Rm 7:12), chegando a dizer: “Segue-se então que abolimos a Torá (Lei) por meio da emunah(fé)? De maneira nenhuma! Ao contrário, confirmamos a Torá” (Rm 3:31)
Marcião atraiu um grande número de seguidores e, após ser excomungado da Igreja de Roma, erigiu uma comunidade independente. A Igreja de Marcião se expandiu com extrema força, alcançando multidão de pessoas, valendo destacar que seu movimento perdurou por muitos séculos. Numerosos gentios se agarraram a Marcião, fugindo do “deus mal” dos judeus, o Criador dos céus e da terra para a crueldade.
Policarpo, que foi discípulo de Yochanan (João), chamou Marcião de “primogênito de Satanás”. Lamentavelmente, o Cristianismo adotou inúmeras heresias do bispo gnóstico.
TERTULIANO (160 a 220 D.C)
Tertuliano lançou as bases do POLITEISMO. É CONSIDERADO um exímio teólogo no Cristianismo.
Ele foi o primeiro a falar a palavra Trinitas, ou seja trindade, dando a idéia de 3 pessoas diferentes, misteriosamente 3 pessoas em 1 deus, ou seja, uma Ideia que reinicia o politeísmo pagão tão conhecido entre os gregos e romanos.
Vale citar as palavras de Tertuliano, o pai da Doutrina da Trindade:
“... enquanto o mistério da dispensação está ainda guardado, o qual distribui a Unidade em uma Trindade, colocando em sua ordem as três Pessoas - O Pai, o Filho e o Espírito Santo: três, contudo não em condição, mas em grau; não em substância, mas em forma; não em poder, mas em aspecto; ainda que em uma substância, uma condição e um poder, enquanto que Ele é um Deus, de onde estes graus, formas e aspectos são reconhecidos, sob o nome de Pai, Filho e Espírito Santo.” - (Contra Práxeas, capítulo II).
“Agora, observe, minha asserção é que o Pai é um, e o Filho um, e o Espírito um, e que Eles são distintos Uns dos Outros” - (Contra Práxeas, capítulo IX)
No século II a maioria dos crentes NÃO cria na Trindade, como admite este próprio TERTULIANO:
“Os simples, de fato, (não os chamarei de não-sábios nem de indoutos), que constituem a maioria dos crentes, ficam assombrados com a dispensação (dos três em um), no sentido de que a sua própria regra de fé os afasta da pluralidade de deuses para um único e verdadeiro Deus...’” (Contra Práxeas, Capítulo 3).
A Bíblia fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Como explicar este fato? Isto não seria a Trindade?
1) YHWH é UM (echad), consoante Devarim/Deuteronômio 6:4 e Yochanan Marcus/Marcos 12:29;
2) o Pai é YHWH (Bereshit/Gênesis 1:1; Yeshayahu/Isaías 63:16 e 64:7 ou, nas versões cristãs, 64:8);
3) o Filho, Yeshua HaMashiach, é YHWH (Yeshayahu/Isaías 9:5-6 ou, nas versões cristãs, 9:6-7; Yochanan/João 1:1; Filipissayah/Filipenses 2:11, este último texto em aramaico diz na parte final: “... Yeshua HaMashiach é YHWH”);
4) a Ruach HaKodesh (“Espírito Santo”) é YHWH (Bereshit/Gênesis 1:2; Yeshayahu/Isaías 63:1-11 e Tehilim/Salmos 51:1-11).
Definitivamente estamos hoje vendo muitas coisas estranhas, ideias religiosas subjetivas, disfarçadas em tom de revelação e aprimorada na suave voz de quem está em oposição do próprio Criador.
Conclusivamente, insistimos na pergunta: até que ponto a apostasia conferida no final do I século, estabeleceu em nós seus inúmeros marcos de transgressão e iniquidade (anomias, não lei)?
Para isso devemos estar atentos e sabedores para ao que está expressamente disposto na Escritura Sagrada:
"E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas."(Guiliana/Revelação 18:04)
Belém-PA, 4/10/2019.
Estudo>Série Teshuvah (Retorno)
Documento Elaborado por Avner e Shaul, B’nei Ysrael.
Material de Apoio (Fontes Primárias):
- Judaísmo Nazareno: a religião de Yeshua e de seus talmidim (2013). Tsadok Ben Derech
- A Restauração das Escrituras: Ed. Verdadeiro Nome. 4Ed. Corrigida e Atualizada (2009). Rabbi Moshe Yoseph Koniuchowsky
Provérbios 14:12